quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

compensações


em caso
de amnésia
não se
aborreça

a memória,
às vezes,
é um tiro
na cabeça.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

sem testamento

filhos futuros
nunca
virão

os do passado
se perderam
ou caíram

no vazio
existencial
lá no fundo

do meu
saco
escrotal.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Segue abaixo o conjunto de cinco textos poéticos premiados com Menção Honrosa no 6º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga e que agora será publicado em livro pelo Clube de Escritores daquela cidade (Clesi).
Este é o único "concurso literário" do qual participo todos os anos, desde 2002, quando fui premiado em primeiro lugar no Prêmio Nacional de Poesia Carlos Drumond de Andrade. Pela seriedade do pessoal de lá.
Confiram os poemetos:


Roteiro das tempestades


as avós
fazem
tricô

enquanto
o céu tece
relâmpagos.

mulheres
fertilizam
barrigas

meninos
sonham
e morrem

pequeninos
com medo
de trovão.

fim de tarde
um arco-íris
desbotado

tendo
ao fundo
coriscos

raios
que nos
partam!

para início
de conversa
continuamos

solitários
dançando
na chuva.


Aquela que falta


busca-se inutilmente
na gramática
sua função
desdobramentos
verbo / tempo
elasticidade


origens.


construção rochosa
sedimentando
estigmas
organizando-se
partícula por partícula
elemento sólido


imóvel.


prótese ausente
no esqueleto
rígido
do poema
gerado
de um fóssil


bíblico.


Noturnos


na tessitura da noite
sedução dos labirintos
coquetéis de líquidos
raros
jogos e armadilhas
pequenos crimes
perfeitos

músicos delirantes
improvisam
sobre tema surreal
num eterno duelo
de saxofones
sexuais

tambores nas trevas
coral de sirenes
estilhaços
naipes de metralha
compõem
uma serenata urbana

a insônia reza
todos os mistérios
do meu rosário
de devorações

arco de fogo
o sono circular
circulará
tigres sonâmbulos
homens circunspectos


monólogos.



O bom e velho poema-piada


muito cedo descobri
que o poema
pode ser piada

mais tarde, por decência,
apliquei-lhe
alguns beletrismos

rococós inúteis
só para ficar
bacana

o verso seco
virou metáfora
substantivo sofisticado

o tiro saiu pela culatra
a palavra solta
ficou travada

o texto antes contido
superalimentado
agora padece obeso

será que é tarde
para retornar
ao velho poema-piada

neste ofício diário
de obreiro de coisas
que não servem para nada?


Orelha drumondária


não tive
filhos
não tive
gado


apenas algumas
vaquinhas
vêm pastar
a grama
em frente
à minha casa


lembro-me
de Drumond
sólido urbano
gauche na vida
sentado
à beira-mar
de Copacabana.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

tudo aqui é ficção


lá fora
uma chuva
insistente
de pássaros
negros
mortos
no telhado
de vidro

dentro um
silêncio
estúpido
interrompido
pelos ruídos
secos
dos corpos
das aves
mortas

é o fim
do mundo
é o fim
de tudo
que nunca
existiu
realmente
aqui dentro
ou fora

tudo aqui
é ficção
os pássaros
negros
mortos
estão na tela
da televisão

não há telhado
muito menos
de vidro
a chuva
lá fora
parou faz
tempo
e o tempo
também.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011