terça-feira, 27 de novembro de 2012

(Exercício frustrante)


o pior do poema


é que ele não sai

da minha cabeça


mas quando vai

para o papel


não vale a pena.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

(Exercício frustrante)

Mapa secreto




moça

me deixe

um dia

ver o seu

desenho

erotizado



da linha

que separa

os seios

até o meio

do seu sexo

perfumado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012



Música estranha



música mínima
estranha
viaja
pelo cosmo
onde nada
reverbera


música seca
sinfônica
invade
casas trancadas
onde pouco
se respira


música perfeita
minimalista
entranha-se
no concreto negro
das celas
onde sobrevive


música cósmica
feita de
silêncios
graves
nas naves
das igrejas


música pagã
tornada
sacra
para alimentar
espíritos
e atormentar
ouvidos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012



Crônica dos odores diários


o caminho
que faço
toda manhã
tem cheiro
de merda

misturado
ao aroma
de tempero
da cozinha
do hotel nacional

a merda é produto
de andarilhos
mendigos
prostitutas
drogados
perdidos na noite
brasiliense

a comida será
servida aos hóspedes
advogados
consultores
lobistas
de passagem pela
capital federal

a diferença é que
os perdidos
deixam a merda
na rua
e os hóspedes
em sanitários
assépticos

mas os odores
me perseguem
todos os dias
no caminho
que faço
para o setor
comercial sul.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Do furto



no povoado cinza

arruinado pelo silêncio

e pela solidão

viveu o poeta blefe

que ganhou fama

e falsa notoriedade

no mundo das letras



no cemitério branco

sobre a colina seca

descansa em paz

o poeta blefe

que furtava sentimentos

de outros poetas já mortos

para construir sua obra



naquele túmulo opaco

o conjunto de ossos

corcomidos

é a sobra da história

do poeta blefe

construída às custas

dos versos de outros



quem passa por aqui

fugindo do destino

ou em busca de silêncio

visita o túmulo imutável

e sempre se indaga sobre

o que levaria um homem

a surrupiar sentimentos


de poetas já mortos.



segunda-feira, 23 de julho de 2012


Clássicos


em busca do tempo
perdido

volto de novo
à estante

para reler
pela primeira vez

a divina comédia
de dante.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Poeminha do dia


pode parecer pouco
mas só tenho um medo
(na vida)
de ficar e não saber
que fiquei louco.

domingo, 20 de maio de 2012

sexta-feira, 4 de maio de 2012


(Uma simpática letra de música que escrevi um dia desses, com uma pegada de samba-bossa, sei lá)

É da memória


Esta canção não é de agora
Nem de um tempo atrás
Ela veio justamente nesta hora
Nem me lembrava mais

Talvez seja o tipo raro
De uma canção sem dor
Ou quem sabe é só um samba
Inexistente de um outro autor

Esta canção não é de hoje
Nem de um mês atrás
Se o tempo nem existe
Presente e passado tanto faz

Esta canção não tem um tema
Ou uma trama cheia de emoção
Não fala de amor e outros dilemas
E nem quer falar ao coração

Esta canção não é de agora
Nem de um ano atrás
Ela veio justamente nesta hora
Nem me lembrava mais

Esta canção é um silêncio bom
Imperceptível no velho dial
Talvez esteja abaixo do tom
E nunca toque em rádio normal

Esta canção não é de agora
De outrora, ou de um minuto atrás,
Ela veio justamente nesta hora
Nem me lembrava mais

Mas ela estava bem guardada
na memória de um computador...

sexta-feira, 13 de abril de 2012


Acidental


queria um
poema erótico
puro, suave 
e sofisticado
mas com toda 
essa delicadeza
acabei ficando 
excitado.

terça-feira, 3 de abril de 2012



atemporal



esse poema
vagabundo
que me
ronda

não passa
de sobra
sombra
de tempos

marginais

esse poema
pornográfico
que me
perturba

é apenas
fragmento
da suruba
de escritos

temporais.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

trio cósmico



no céu

de estrelas

de taquaraçu

uma lua

nova

toda prosa


na boa

companhia

dos deuses

júpiter e vênus.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

(Homenagem aos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 22)


Pós modernos


o cinza
e o negro

mas principalmente
o branco.



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Dúvida



os puristas
estão detidos
no purgatório

no paraíso
não cabe
mais cínicos

de moralistas
o inferno
está cheio

resta apenas
aquela velha
dúvida

por onde
andam
os irônicos?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Culinária do grotesco


não encho
lingüiça

o poema
é dietético

mas o
estômago

adora uma
tripa frita

 

I.
 


oswald pensava
numa revista
de antropofagia

enquanto comia
o angu
da pagu



II.


da galinha
o coração
zinho
assado

sangue
cozido

fígado
tenro

moela
fibrosa

gosta-se
de aves
por
dentro.



III.


boi morto
estômago
posto.


IV.


uma torta
cai bem
lá pelas

seis da tarde

quem disse
que a vida
não vale
nada?

vale
uma torta
salgada


V


um aroma
de alho povoa
lembranças

memória
de torresmos
no ar


VI


chocolate
quente
bombom
gelado

temperaturas
não importam

dos lábios
escorre
uma saliva
negra


VII


o café
macula
o branco
do leite

alquimia
preferida
em tardes
de tédio

computador
parado
minutos
de êxtase.


VIII


nada mais
metafísico
do que

uma porção
de batatas
fritas.


IX.


voyeur
de vitrines
bizarras

mortadelas
provolones
mussarelas

no freezer
um mercado
de sexo.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


(Remexendo meus arquivos mortos virtuais encontrei este textinho inédito que devo ter achado uma grande besteira. Mas tudo bem, aí vai)


Astrofísica banal


o buraco negro
no universo
do teto
suga minhas
galáxias mentais
como se fossem
gases comuns

fico pensando
com os olhos
pregados
no branco gelo
do teto
no que terá
depois desse
buraco negro

aspirador invisível
que leva
as estrelas
do meu
quarto
para o quinto
dos infernos

do universo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Terra dos nomes


minha terra
tem lugares
com nomes
como
sebastopol

basta buscar
no mapa
para descobrir
papua-
nova guiné

terra do fogo
vladivostok
beijin
bornéu
santa fé

minha terra
tem lugares
com nomes
como
jeriquaquara.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Crônica dos dias


Segunda-feira


segundo darwin
neste dia
(após descansar
no domingo)
deus desistiu
da sua criação
perfeitinha
e deixou que
as espécies
evoluíssem
por sua
conta
e risco.


Terça-feira


dia mais
charmoso
da semana

quando acaba
o transe
e começa

o real
imaginário.


Quarta-feira


intervenção
no diário

lâmina de
corte seco

intermediário.


Quinta-feira


premonição
do fim
em breve

nascente
poente
de um sol

presdigitado.



Sexta-feira


horas
lentas
pessoas
voam

carros
passam
lugares
fecham

vapores
alcoólicos
na camada
de ozônio.