quinta-feira, 11 de abril de 2013

(poema revisitado)

Exercício infinito sobre o estado das coisas


( ... )

as coisas são várias
densas moles tralhas

as coisas são cruas
almas carnes duras

as  coisas   são   polpas
líquidas  sólidas  sopas

as coisas são letras
frias corpos   tetas

as coisas são quentes
pele   ossos   dentes

as coisas  são   tortas
curvas escuras mortas

as coisas  são  largas
longas quietas parcas

as coisas  são raras
tensas bestas claras

as coisas são réstias
nesgas nexos peças

as coisas são duplas
tenras únicas frutas

                      ( ... )

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Reminiscências taquaraçuenses


em frente de casa
tem um jenipapeiro
enorme de grande
o bruto
como diz o ditado
tamanho não é documento
desse gigante jamais
se colheu um fruto.

sexta-feira, 5 de abril de 2013





das escutas clandestinas




insônia
com café
e cigarros


zumbi a esmo
no breu
espesso


os olhos
em névoa
opaca


tímpanos
ardendo
frases picadas


transcrição
de segredos
privados


políticas
de estado
bruto



fita 1


um nome sujo
inesperado
no emaranhado
de tramas
e lapsos
da quebra de sigilo


nome único
em meio
aos diálogos tensos
ironias
entre sexo
e suores


o nome seco
reverbera
mesmo proibido
em traduções
simultâneas
pelas paredes
branco gelo



fita 2


grunhidos agudos
gemidos de raiva
prazer com fúria


lembram a falta
de cerimônia
dos gatos


no cio



fita 3


um silêncio
puro
comprido
deixa ruídos


um nada
que se
expande
perturba


um som
ininterrupto
de algo
finito:


o sono



fita 4


falas de homens
um jazz
expansivo

solo de trompete


toque de taças
risos perdidos
sussurros suspeitos

monossílabos


código secreto?
senhas?
noite de amor
entre iguais


serviço dobrado
para a perícia
minuciosa

sem preconceitos



fita 5


novamente
o nome sujo
inesperado


um choro
torturante
frase amarga


um copo
em fragmentos
um grito curto


reverberam
no branco
gelo


uma porta
bate
expandindo-o



fita 6


numa tarde
solidão
a dois

revelações
irrelevantes


noutra manhã
um saxofone
solitário

acordes
dissonantes



fita 7


sábado
céu azul
lápis cera


crianças
cães
mulheres


altofalantes



fita 8


domingo
casa morta

todos mortos
dentro

varandas
em silêncio

morte
fora.