quinta-feira, 25 de julho de 2013




matador de palavras

 

 
meu amor

tinha

quinze anos

quando

morreu  do

coração

 

por isso

estes poemas

secos

sobre a mesa

 

e este doce

do sangue

das letras

de sobremesa.

quarta-feira, 24 de julho de 2013




O que é

 

o poema

pode ser

 

dois pontos

 

poema

uma vírgula

 

ou ponto

de exclamação

 

o poema

pode ser

 

um sinal

um signo

 

escorpião.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Abaixo o meu conjunto de poemas ganhador do 10º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga 2012:

Crônicas breves sobre coisas quase palpáveis




I - Dos dias



segunda-feira


segundo darwin

neste dia

(após descansar

no domingo)

deus desistiu

da sua criação

perfeitinha

e deixou que

as espécies

evoluíssem

por sua

conta

e risco.



terça-feira



dia mais

charmoso

da semana



quando acaba

o transe

e começa



o real

imaginário.



quarta-feira



intervenção

no diário



lâmina de

corte seco



intermediário.



quinta-feira



premonição

do fim

em breve



nascente

poente

de um sol



presdigitado.



sexta-feira



horas

lentas

pessoas

voam



carros

passam

lugares

fecham



vapores

alcoólicos

na camada

de ozônio.



II - Da metrópole



solidão

construtivista

geometrias

assexuadas



avenidas

desertos

sentimentos

terremotos



totens

urbanos

ícones

sob o sol



cinema

suspense

batom

sangrento



bandido/herói

travestis

lâmina com

lâmina



sombras

vorazes

um corpo

que cai



a marca

do zorro

sujeito

oculto



tatuado.



III - De ninguém



neste mundo

de trevas

e tremores



não há povo

que fale

a minha língua



ou entenda

a minha

escrita



nenhuma tribo

que dance

o meu batuque



nenhum pajé

que reze aos

meus deuses



estou sozinho

enquanto ergo

meus totens



em vão

na extensa nudez

das planícies.




IV - Do furto



no povoado cinza

arruinado pelo silêncio

e pela solidão

viveu o poeta blefe

que ganhou fama

e falsa notoriedade

no mundo das letras



no cemitério branco

sobre a colina seca

descansa em paz

o poeta blefe

que furtava sentimentos

de outros poetas já mortos

para construir sua obra



naquele túmulo opaco

o conjunto de ossos

corcomidos

é a sobra da história

do poeta blefe

construída às custas

dos versos de outros



quem passa por aqui

fugindo do destino

ou em busca de silêncio

visita o túmulo imutável

e sempre se indaga sobre

o que levaria um homem

a surrupiar sentimentos



de poetas já mortos.



V – Da infância



nos objetos

da casa

a sensação

de ruídos



a tristeza

imediata

no tormento

que nos

varre



feito o tiroteio

heróico

atrás das cancelas

dos meus

oito anos



ruína sob

ruína

a memória

constrói sua

história torta



ruína sob

ruína

a canção

do exílio

se encerra.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Vento na cara




vento
no plano
é coisa solta
açoita
a cara
dispara


vento
no concreto
é coisa presa
engarrafada
quando liberto
escancara

quinta-feira, 11 de abril de 2013

(poema revisitado)

Exercício infinito sobre o estado das coisas


( ... )

as coisas são várias
densas moles tralhas

as coisas são cruas
almas carnes duras

as  coisas   são   polpas
líquidas  sólidas  sopas

as coisas são letras
frias corpos   tetas

as coisas são quentes
pele   ossos   dentes

as coisas  são   tortas
curvas escuras mortas

as coisas  são  largas
longas quietas parcas

as coisas  são raras
tensas bestas claras

as coisas são réstias
nesgas nexos peças

as coisas são duplas
tenras únicas frutas

                      ( ... )

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Reminiscências taquaraçuenses


em frente de casa
tem um jenipapeiro
enorme de grande
o bruto
como diz o ditado
tamanho não é documento
desse gigante jamais
se colheu um fruto.

sexta-feira, 5 de abril de 2013





das escutas clandestinas




insônia
com café
e cigarros


zumbi a esmo
no breu
espesso


os olhos
em névoa
opaca


tímpanos
ardendo
frases picadas


transcrição
de segredos
privados


políticas
de estado
bruto



fita 1


um nome sujo
inesperado
no emaranhado
de tramas
e lapsos
da quebra de sigilo


nome único
em meio
aos diálogos tensos
ironias
entre sexo
e suores


o nome seco
reverbera
mesmo proibido
em traduções
simultâneas
pelas paredes
branco gelo



fita 2


grunhidos agudos
gemidos de raiva
prazer com fúria


lembram a falta
de cerimônia
dos gatos


no cio



fita 3


um silêncio
puro
comprido
deixa ruídos


um nada
que se
expande
perturba


um som
ininterrupto
de algo
finito:


o sono



fita 4


falas de homens
um jazz
expansivo

solo de trompete


toque de taças
risos perdidos
sussurros suspeitos

monossílabos


código secreto?
senhas?
noite de amor
entre iguais


serviço dobrado
para a perícia
minuciosa

sem preconceitos



fita 5


novamente
o nome sujo
inesperado


um choro
torturante
frase amarga


um copo
em fragmentos
um grito curto


reverberam
no branco
gelo


uma porta
bate
expandindo-o



fita 6


numa tarde
solidão
a dois

revelações
irrelevantes


noutra manhã
um saxofone
solitário

acordes
dissonantes



fita 7


sábado
céu azul
lápis cera


crianças
cães
mulheres


altofalantes



fita 8


domingo
casa morta

todos mortos
dentro

varandas
em silêncio

morte
fora.

quinta-feira, 21 de março de 2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013



(Interpretação de texto é uma merda)




da janela

ele fazia

a leitura

da tempestade

 
quando um

raio súbito

resolveu

traduzi-la



num só

impacto

fez a sua

radiografia



atordoado

ele entendeu

o desassossego

de ser lido.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013





monocromático


todo céu
anil
precisa
de um pássaro
preto
que beira
ao azul
para melodizar
o peso
da cor.