quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saudações aos delirantes

Coletânea de poemas premiada com Menção Honrosa e classificada entre as nove melhores do Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga / 2010, cujo resultado está no site www.clesi.com.br. Como sempre, os vencedores serão publicados em livro.


Trancamentos


o silêncio
das bibliotecas
apavora
tanto quanto
o dos cemitérios


( ambos são silêncios
de conteúdo
trancado )


livros são sólidos
compostos por letras
mortas
que só revivem
quando abertos


mortos são
ossos indecifráveis
que só
tomam corpo
quando lembrados


gestos e memória
são coisas de vivos
ruidosos
enquanto o silêncio
é inerente aos mortos


o segredo da morte
está no silêncio
das bibliotecas
ou no trancamento
dos cemitérios?


quem nos responderá:
o coveiro de livros
ou o livreiro
dos mortos?


Deletados


aquele poema
em constante
construção


que ia
e vinha
digitalmente


de agora
em diante
não vem mais


seus estalos
não foram
salvos


foram entregues
à própria
sorte


à deriva
no cristal
líquido.


um anjo


no meu inferno
habita
um anjo
de olhos pretos
pretos
como a treva
que lhe sugere


bicho lascivo
de asas
sensuais
com lábios rubros
rubros
como o sangue
que me ferve


num inferno
que se confunde
com o paraíso
que nos serve
para a fantasia
libidinosa
que me envolve.


manhã


saudações
aos delirantes
que vazam
as noites
sem deduzir
um só dia


trapos negros
rostos sujos
nos sinais
estendem mãos
mais sujas
ainda:


moço
me dá
um troco
pra comprar
um (café)

uma pedra.


Fazeres


reflita sempre
sobre
velhos fazeres

das tripas
coração

do limão
limonada

não responda
nunca
velhas indagações

quantos paus
uma jangada?

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