I
Pouco
toda contenção
estética
provoca secura
na garganta
poesia de baixa
umidade
peço a deus
uma prosa densa
tensionada
por rimas
sutis
nas entrelinhas
mas ele não
me ouve
então purgo
meus pecados
neste deserto
textual
sacrifico palavras
em tempestades
de areia
louvo o corpo
anêmico
deste poema
(mínimo).
II
Cristal líquido
o criador
a criatura
suas sombras
se perturbam
o real
o imaginário
suas formas
se costuram
o real
o virtual
água e óleo
se misturam.
III
Epílogo brasiliense
a cidade morre
no domingo
mais estranha
do que tensa
pombos devoram
restos de civilização
em vias desertas
transversais
o silêncio paira
na gravidade
dos subterrâneos
sem homens
sons do vazio
reverberam
imagens do nada
nos prédios
melancolia fria
sobre a geometria
que se encerra
em ângulos retos
tudo se finda
um sol estúpido
estanca a liquidez
da tarde.
IV
Biografia humana
corpo
capítulo
cadáver
espírito
escárnio
ex-carne
terra
aterro
enterro
resumo
resto
resíduo
fosso
osso
fóssil.
V
Livro da morte
no manuscrito
original
sobre a morte
nos escombros
da biblioteca
de alexandria
boas novas
para os
pecadores
o paraíso é tropical
mas no inferno
também neva.
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