quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um texto em constante construção:

Exercício infinito sobre o estado das coisas


(...)


as coisas
são várias
densas
moles
tralhas

as coisas
são cruas
almas
carnes
duras

as coisas
são polpas
líquidas
sólidas
sopas

as coisas
são letras
frias
corpos
tetas

as coisas
são quentes
pele
ossos
dentes

as coisas
são tortas
curvas
escuras
mortas

as coisas
são largas
longas
quietas
parcas

as coisas
são raras
tensas
bestas
claras

as coisas
são réstias
nesgas
nexos
peças

as coisas
são duplas
tenras
únicas
frutas


(...)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tempo cruel


se a velhice
é down e mesquinha
bem que no intervalo
dos anos
a Terra poderia
dar uma paradinha.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

( reflexões de um improdutivo )

uma coisa
é certa

no âmbito
das maldições
literárias

prefere-se
a maldição
das palavras

à sua
entressafra.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

(Poeminha autobiográfico)


Pouco


toda contenção
estética
provoca secura
na garganta
poesia de baixa
umidade

peço a deus
prosa densa
tensionada
por rimas
sutis nas
entrelinhas

mas ele não
me ouve
então purgo
meus pecados
neste deserto
textual

sacrifico palavras
em tempestades
de areia
louvo o corpo
anêmico
deste poema


mínimo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

(poema em homenagem ao rio Piracicaba que deu origem à minha terra natal, João Monlevade, no Vale do Aço mineiro)

Com ler um rio dentro da cidade original

joão cabral de melo neto
se tivesse visto o piracicaba
imaginaria “um cão sem plumas” ?



todo rio faz
uma releitura
lenta
digestiva
das geografias
que assimila

nenhum rio
escolhe uma cidade
elas se erguem
à sua revelia
invadem margens
violam sua água

a cidade surgiu
do ferro e fogo
com esse rio
nas entranhas
serpente de fúria
e calmaria

durante as cheias
lambia casas
devorava incautos
depois acalmava-se
numa sonolenta
vigília surda

a calda do rio
como o corpo
dos homens
absorveu o aço
seus fluídos
seu ácido

as águas rubras
semimortas
não sentiram
o corpo urbano
indócil
expandir-se

na margem virtual
da cidade outra
lia-se o rio como morto
sem traduzir seus
ritos e tragédias
ou deduzir seu esgoto

mas o rio seguia
a sua escrita
selvagem
pouco denso
menos químico
mas indivísivel

enquanto a memória
sonâmbula
esquecia o rio
emparedado
na releitura eterna
da cidade original.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

(Relembrando)

morte bilíngue


( fim ) the end epílogo finish tudo: nothing
fim ( the end ) epílogo finish tudo: nothing
fim the end ( epílogo ) finish tudo: nothing
fim the end epílogo ( finish ) tudo: nothing
fim the end epílogo finish ( tudo ): nothing
) nada (

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

guardados


vaginas
molhadas
guardam

em suas
grutas
obscuras

algumas
nuances
secretas

volumes
de abstrações
fálicas

miscelânea
de línguas
e lábios

entre
sílabas
e sussurros.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

(Uma homenagem singela aos 109 anos de Carlos Drumond de Andrade comemorados hoje)


Orelha drumondária


não tive
filhos
não tive
gado


apenas algumas
vaquinhas
vêm pastar
a grama
em frente
à minha casa


lembro-me
de Drumond
sólido urbano
gauche na vida
sentado
à beira-mar
de Copacabana.
(Mais um da série Poemas Revisitados)


a marca do zorro


no gueto
a violência
micro
da metrópole
macro

lâmina com
lâmina
bandidos
/heróis
travestis

tatuados.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

sonetinho de amor


amor não
tem limites
corporais
geográficos

amor não
tem pudores
estéticos
ou morais

amor é
amoral
aético

é sanfona
engorda /
emagrece.
Estações e crises


após a primavera
árabe
vem o inverno
europeu.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As velhas paixões da juventude


remexo gavetas
deseperadamente
em busca
de resíduos
que comprovem
a sua passagem
pelo meu
mundo fechado
de décadas atrás


refaço memórias
investigo sinais
fotografias
rabiscos
tormentos
nada encontro
que me mostre
este sentimento
de um passado
remoto


não tenho tempo
ou know how
para criar
um mecanismo
do tempo
mas algo
nesta manhã
me diz
que você está
presa lá
em um vácuo

um lapso.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ninguém
(poema revisitado)



neste mundo
de trevas
e tremores

não há povo
que fale
a minha língua

ou entenda
a minha
escrita

nenhuma tribo
que dance
meu batuque

nenhum pajé
que reze
aos meus deuses

estou sozinho
mas ergo
meus totens

em vão
na extensa nudez
das planícies.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Diário de sábado


chuva em
brasília
só se for
de cinzas

sábado de fogo
na floresta
aviões no céu
tão pesado
quanto a guitarra
do kurt cobain

hoje faz 20 anos
de "nevermind"
a televisão toca
nirvana o dia todo

a secura invade
a boca, o corpo
que vibra ao
som único
de seattle
enquanto brasília

ferve
chuva por aqui
só for
de cinzas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

(Da série: Revisitações & Releituras)

Relendo Ana Cristina César e Silvia Plath


(a) cúmulo
de lirismo
em corações
depredadores

trepadeiras
artérias
vasos
de sanguíneos
lírios raros

hemorragias
e secções
um coração
partido
e meio

um corpo
que cai
do 14º
devagar
inho

( a seus pés )

corações
extremados
com acúmulo
de lirismo

sólido
seco
líquido
gasoso


frio.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

(Da série Revisitações & Releituras)

Infância sob Casimiro & Gonçalves


nos objetos
da casa
a sensação
de ruídos

a tristeza
imediata
no tormento
que nos
varre

feito o tiroteio
heróico atrás
das cancelas
dos meus
oito anos

ruína sob
ruína

a memória
constrói sua
história torta

ruína sob
ruína

a canção
do exílio
se encerra.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

a miséria criativa que nos abate (2)


a página
em branco

será infinita
a contragosto

enquanto
dure

a aridez
de agosto.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

poema para chiara


beleza rara
de languidez
eslava
e agudez
italiana

musa multimídia
com enigmas
milenares
no olhar
que atravessa
telas de plasma

corpo de deusa
meio grega
meio romana
mapa mundi
de geografias
curvilíneas

uma serpente
repousa calma
sobre a sua
pele de veludo
selvagem.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

prefácio online 22


não sou mais
o poeta blefe

agora sou
o poeta
twitter

e saco
meu
iphone

que dispara
versos em
140 caracteres

mas continuo
bem atento
orando para

são oswald
continuar
moderno.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

conformismo


não fiz
um filho
sequer

pelo menos
criei alguns
poemas

a maioria
sem caráter
algum


...pensando bem
foi melhor
assim.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Invendável


uma fenda
pode revelar
o cúmulo
do detalhe

a pele
clara
o naco
obscuro

profundezas
dramáticas
ou casuais
sob tecidos

uma fenda
desvenda
o invendável
dos remendos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sentidos Meios

Poema visual de Geraldo Magela animado por Gustavo Serrate
Confira em:

http://www.vimeo.com/25988893

sábado, 2 de julho de 2011

(O poema abaixo é de julho de 1983 e foi feito especialmente para a minha eterna paixão Vaninha e foi montado em uma exposição gráfica que, infelizmente, não dá para reproduzir aqui)

2001, uma odisséia para Vânia

no mapa
a geologia
do beijo

no beijo
a biologia
da boca

na boca
a geografia
do sentido

ouço
sons
alço
sons

hosana
nas alturas

o seu nariz
gelado
em julho

hosana
nas alturas

eu te percebo
atrás do novo
verbo deste
poema artesanal

eu te traduzo
através deste
novo gesto
verbocorporal

a minha nave
o meu trovão
a lentidão
do espaço
em branco

a nossa nave
o nosso trovão
a velocidade do
espaço em cores

leio nos
seus olhos
os seus
olhos nus

meus olhos
lendo a
calma e
o coração

a pele
( o resto se dane )
o tato
(que o resto se dane )
a carne
( antes que o resto se dane)

no espaço
interior
as nossas bocas
linguam-se

no espaço exterior
as nossas línguas
bocam-se

quebro o gelo
mamutes à solta
história geral

sou pagão
te adoro

agora um
pulo cardíaco:
te amo

o meu amor
arranha-céu
na quinta rua
que cruza
com a getúlio vargas
um beijo

o raio
rosa
o raio
roça-
me

o corpo
corpo
a alma
alma

sinto
as suas
mãos

medo já não tenho

mulher
de peixes
aqui
deixo
o corpo

e os vasos
sagrados
da alma

e a água
e o sangue
em adoração

e declaro
para todas
raças
e confins

o único giro

nós
em torno
de nós

planetas
por
planetas
felicidade
eu sei
que sim.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

(poema revisitado - de vez em quando em bom mexer/revirar/remexer nos velhos textos)

fuzarca noturna para orquestra sem piano


violino transviado
interrompe
solo de flauta
transversa

a noite traz
consigo
a erudição
dos violoncelos

a sensualidade
comedida
da violoncelista
míope

tempestade de gritos
metais agudos
caem sobre
flautins passivos

prato bissexto
prato feito
para um bumbo
histérico

sax bêbado
harpa onírica
atmosfera etílica
caoslírica

violas erotizadas
clarins maliciosos
trompas em sussurros
orgasmo explícito

piano
pianíssimo
pianissíssimo
o pianista faltou

sons enlouquecidos
anti-orquestra
sem rumo
nem partituras

puro sexo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Saudações aos delirantes

Coletânea de poemas premiada com Menção Honrosa e classificada entre as nove melhores do Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga / 2010, cujo resultado está no site www.clesi.com.br. Como sempre, os vencedores serão publicados em livro.


Trancamentos


o silêncio
das bibliotecas
apavora
tanto quanto
o dos cemitérios


( ambos são silêncios
de conteúdo
trancado )


livros são sólidos
compostos por letras
mortas
que só revivem
quando abertos


mortos são
ossos indecifráveis
que só
tomam corpo
quando lembrados


gestos e memória
são coisas de vivos
ruidosos
enquanto o silêncio
é inerente aos mortos


o segredo da morte
está no silêncio
das bibliotecas
ou no trancamento
dos cemitérios?


quem nos responderá:
o coveiro de livros
ou o livreiro
dos mortos?


Deletados


aquele poema
em constante
construção


que ia
e vinha
digitalmente


de agora
em diante
não vem mais


seus estalos
não foram
salvos


foram entregues
à própria
sorte


à deriva
no cristal
líquido.


um anjo


no meu inferno
habita
um anjo
de olhos pretos
pretos
como a treva
que lhe sugere


bicho lascivo
de asas
sensuais
com lábios rubros
rubros
como o sangue
que me ferve


num inferno
que se confunde
com o paraíso
que nos serve
para a fantasia
libidinosa
que me envolve.


manhã


saudações
aos delirantes
que vazam
as noites
sem deduzir
um só dia


trapos negros
rostos sujos
nos sinais
estendem mãos
mais sujas
ainda:


moço
me dá
um troco
pra comprar
um (café)

uma pedra.


Fazeres


reflita sempre
sobre
velhos fazeres

das tripas
coração

do limão
limonada

não responda
nunca
velhas indagações

quantos paus
uma jangada?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ranço antigo


uma elite
acadêmica
não nos
atura

poesia livre
marginal
solta ou
alternativa

não! poeta
tem que ser
doutor em
literatura.

terça-feira, 31 de maio de 2011

narrativas do oeste selvagem


um réptil
risca a areia
sutilmente

o sol
se põe
alaranjado

lá longe
no horizonte
gasoso

nunca se
viu um
sol assim

o deserto
se expande
no olhar

no som
da ave
de rapina

o dia
da fúria
chegou

sol laranja
com pistoleiros
ao entardecer.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Rebanhos


passo o dia
expulsando
demônios

que habitam
corpos estranhos
ao meu

pastor de
rebanhos
malditos

cruzo a noite
contando maus
espíritos

sem deus ou dor
que vagam
nas sombras

de corpos
comuns
aos seus.

terça-feira, 24 de maio de 2011

livro da destruição


avenidas
( desertos )


sentimentos
( terremotos )


luz
e trevas


o preto
no branco


solidão
arrasadora


vivos sobre
mortos


totens
urbanos


ícones sob
o sol.

domingo, 15 de maio de 2011

Olha aí um poeminha lá dos anos 90:


Geração espontânea


tem poeta de todo
tipo

rolling stone
oswaldiano
drumondário
desbandeirado
dialético

tem poeta pra todo
gosto

açucarado
lírico insólito
etílico romântico
brega chic
dietético.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Os nomes que os homens dão


quero partir
agora
mas não sei
a hora
da primeira
embarcação

para a grande
nuvem
de magalhães

quero ir embora
nesta hora
para qualquer
lugar
com nome
mais belo

do que
papua –
nova guiné.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sentimentos


rancor é algo
que não
requer

frescor

ou ar
refrigerado

ressentimento?

sirva
gelado.

domingo, 1 de maio de 2011

Vírus


umescri
torcont
aminado
invadiu
osistem
aeditor
ialumes
critorc
ontamin
adoinva
diuosis
temaedi
torialu
mescrit
orconta
minadoi
nvadiuo
sistema
editori
alumesc
ritorco
ntamina
doinvad
iuosist
emaedit
orialum

(...)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

(51 anos de Brasília)

Epílogo brasiliense


a cidade morre
no domingo
mais estranha
do que tensa

pombos devoram
restos de civilização
em vias desertas
transversais

o silêncio paira
na gravidade
dos subterrâneos
sem homens

sons do vazio
reverberam
imagens do nada
nos edifícios

melancolia fria
sobre a geometria
que se encerra
em ângulos retos

tudo se finda
um sol estúpido
estanca a liquidez
da tarde.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Lição de filosofia numa quinta


hoje não quero
futilidades
estou profundo

a vida passa
em uma
semana

e eu nem parei
para pensar
o mundo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Predador e presa


felino fêmea
faz um risco
de treva
feito flecha
no amarelo
solar
da savana

talvez leoa
ou leoparda
pantera negra
que seja

seu corpo
lânguido
sensualíssimo
me seduz
como se
eu fosse
a presa.

segunda-feira, 14 de março de 2011

joaquim silvério dos reis brincando
no computador de tiradentes:


DELATO (...) DELETO
DELETO (.. ) DELATO
DELATO ( . ) DELETO
DELETO ( ) DELATO
DELATO ( DELETO
@DELATO

domingo, 13 de março de 2011

Abaixo, outro texto poético dos anos 90 que gosto muito. Não se importem, pois algumas pessoas aí já morreram. É a vida!

O caçador de abstratos

Cotidianamente rezo um rosário de palavrões. ( Que vá à merda ). Cássia Eller no digital. Diz a crítica: ( Cago. Ando. Cago ) ela está melhor. O telefone mudo. A voz muda. Estamos todos meio afônicos. Síndrome de bossa nova. Somos todos infelizes, disse Machado em suas memórias póstumas. Um grupo inglês sombrio à luz do dia. Pós modernos nos postamos melancólicos. Cotidianamente rezo um rosário de tesões. Sheilas nuas num out-door.
Estou sempre aflito. Me grito. Me calo. ( Falo ). Desesperado. Acho que vou destruir algo. Talvez todos os meus escritos. Lírico abandonado. Romântico desinspirado. A rima foi um simples acaso. Detesto rimas. Detesto vídeo games. Detesto alguns sites na internet. Detesto tudo aquilo que não sei manusear. Por isto este barco à deriva? Por isto esta raiva absurda? Somos todos absurdos, disse Beckett antes de Malone morrer. Esperamos por Godot. Mas quem aparece é Godard. Diz a crítica: ( Cago. Ando. Cago ) ele está pior. Cotidianamente crio um rosário de caos. Objetos. Ereções. Angulações concretas. Retas. David Byrne toca samba. As luzes da cidade me apavoram. Prefiro a tranquilidade grotesca das trevas. O olhar opaco de um Borges.
João Cabral de Melo Neto levou para o escuro eterno a sua visão periférica. Memórias do presente um minuto atrás. O passado um segundo à frente.
Um poema que parte o vidro. É disto que eu preciso. Não é nada disso. Parte-se o tempo. Somos todos frios, diz um escritor eurocomunista em extinção. Estamos fervendo. Ficando loucos. Globalizando-se. Estamos assim há vários anos. Talvez seja este o nosso prazer.Buscamos a forma. Desistimos da fama. O conteúdo, mesmo que seja em vão. Egos com creme de leite nacional. Os homens se tornam cyborgs. Mas sempre terão alma. Ou então uma arma. Já que tudo é tão concreto. Sempre. Tudo indica que continuaremos em fuga. Sempre. Blade Runner caça agora os abstratos.

quarta-feira, 9 de março de 2011

instinto básico


cabeça
tronco
membros

vísceras à parte

cérebros:

sopa de letrinhas
para canibais
acadêmicos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um poema velho com jeito de "novo" (do meu livreto inédito Texto Selva", lá dos anos 90):


sólidos para artes plásticas


signos
cores
grafias

sentido plural.

ossos
tecidos
sedimentos

tela fóssil.

acrílica sobre
madeira
podre

poema reciclado.

óleo
areia
pigmentos

vanguarda acadêmica.


ferro. aço.
ferro. fibra.
ferro. plástico.

subjetivos industriais.

estruturas
construções
metais

guindaste estético.


fios sintéticos
cizal moldando
argila

mãos didáticas.


resina
terra
grafite

camadas nervosas.


dejetos
detritos
lixo diário

essência orgânica.


cão morto
sobre
tela


composição/decomposição.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Abaixo um poema do poeta/jornalista, amigo e parceiro de peripécias
Wir Caetano:

Guimba Underground

(Pra Rubinho Troll)

Freud morreu de câncer
do tabaco dos defuntos
detonou o próprio ego
na piscina dos pés juntos

Freud engoliu tabaco
só por desejá-lo muito
como quem deseja a mãe
dos vivos e dos defuntos

Freud morreu mamando
o tabaco lá no fundo
como abraço de um amigo
que dá um mamilo junto

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Salivações


língua
letra
paladar
produto
lânguida
sílaba
em
negrito

lânguida
letra
paladar
produto
língua
sílaba
em
negrito

letra
sílaba
paladar
produto
lânguida
língua
em
negrito.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Aperitivo


não encho
lingüiça

o poema
é dietético

mas o
estômago

adora uma
tripa frita.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

mais um poeminha dos anos 80 pra vocês:


romantismo


quando pequeno
eu amava o general
custer
e a sétimo céu

hoje, baby,
eu beijo linguamente
a sua pele
vermelha.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

nicole kidman numa tarde


a sua imagem
claríssima
invade
meu sono
e o quarto
escuro

sua pele alva
é um alvo
para meus
delírios
em dias
de tormenta

quando essa
beleza de lady
surge
assim do nada
para um
chá da tarde.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

compensações


em caso
de amnésia
não se
aborreça

a memória,
às vezes,
é um tiro
na cabeça.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

sem testamento

filhos futuros
nunca
virão

os do passado
se perderam
ou caíram

no vazio
existencial
lá no fundo

do meu
saco
escrotal.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Segue abaixo o conjunto de cinco textos poéticos premiados com Menção Honrosa no 6º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga e que agora será publicado em livro pelo Clube de Escritores daquela cidade (Clesi).
Este é o único "concurso literário" do qual participo todos os anos, desde 2002, quando fui premiado em primeiro lugar no Prêmio Nacional de Poesia Carlos Drumond de Andrade. Pela seriedade do pessoal de lá.
Confiram os poemetos:


Roteiro das tempestades


as avós
fazem
tricô

enquanto
o céu tece
relâmpagos.

mulheres
fertilizam
barrigas

meninos
sonham
e morrem

pequeninos
com medo
de trovão.

fim de tarde
um arco-íris
desbotado

tendo
ao fundo
coriscos

raios
que nos
partam!

para início
de conversa
continuamos

solitários
dançando
na chuva.


Aquela que falta


busca-se inutilmente
na gramática
sua função
desdobramentos
verbo / tempo
elasticidade


origens.


construção rochosa
sedimentando
estigmas
organizando-se
partícula por partícula
elemento sólido


imóvel.


prótese ausente
no esqueleto
rígido
do poema
gerado
de um fóssil


bíblico.


Noturnos


na tessitura da noite
sedução dos labirintos
coquetéis de líquidos
raros
jogos e armadilhas
pequenos crimes
perfeitos

músicos delirantes
improvisam
sobre tema surreal
num eterno duelo
de saxofones
sexuais

tambores nas trevas
coral de sirenes
estilhaços
naipes de metralha
compõem
uma serenata urbana

a insônia reza
todos os mistérios
do meu rosário
de devorações

arco de fogo
o sono circular
circulará
tigres sonâmbulos
homens circunspectos


monólogos.



O bom e velho poema-piada


muito cedo descobri
que o poema
pode ser piada

mais tarde, por decência,
apliquei-lhe
alguns beletrismos

rococós inúteis
só para ficar
bacana

o verso seco
virou metáfora
substantivo sofisticado

o tiro saiu pela culatra
a palavra solta
ficou travada

o texto antes contido
superalimentado
agora padece obeso

será que é tarde
para retornar
ao velho poema-piada

neste ofício diário
de obreiro de coisas
que não servem para nada?


Orelha drumondária


não tive
filhos
não tive
gado


apenas algumas
vaquinhas
vêm pastar
a grama
em frente
à minha casa


lembro-me
de Drumond
sólido urbano
gauche na vida
sentado
à beira-mar
de Copacabana.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

tudo aqui é ficção


lá fora
uma chuva
insistente
de pássaros
negros
mortos
no telhado
de vidro

dentro um
silêncio
estúpido
interrompido
pelos ruídos
secos
dos corpos
das aves
mortas

é o fim
do mundo
é o fim
de tudo
que nunca
existiu
realmente
aqui dentro
ou fora

tudo aqui
é ficção
os pássaros
negros
mortos
estão na tela
da televisão

não há telhado
muito menos
de vidro
a chuva
lá fora
parou faz
tempo
e o tempo
também.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011